terça-feira, abril 24, 2007

Estava eu em Coimbra...

Na véspera de mais um feriado comemorativo, à beira da Catedral vai-se falando desse dia em que cada um, à sua maneira, disse "Presente" e escolheu o seu lado da barricada.

Muitas estórias, peças da grande história que se escreveu, poderiam aqui ser registadas.

Por exemplo, o caso do Engenheiro Agrónomo Almerindo Lacerda, afilhado do Senhor Almirante Thomaz e comandante da Companhia de Atiradores 5, de '62 a '70, Guiné Bissau, que se encontrava, nesse dia 25, na casa de férias do seu tio Luís Manuel, na Praia das Maçãs e que começou por pensar que o golpe era da Direita.

Ou então o relato do Paulo Costa, soldado do Batalhão de Transmissões 10, dos anos de '68 a '72, que tinha visto o seu Sargento Lopes a ser despedaçado por uma mina, numa qualquer picada em Angola e que também se tinha levantado cedo nessa manhã para se apresentar ao serviço na empresa de mudanças do seu tio Alberto.

Ou ainda o da Maria Celeste, estudante do sétimo ano dos Liceus, natural e residente em Setúbal e madrinha de guerra do seu primo Toni.

Contudo, há um relato curioso, que vale a pena ser contado. O relato de uma estudante de Coimbra, uma resistente silenciosa, que, embora não entendendo muito de política e de activismo, suspirava por uma lufada de ar fresco que ia tardando. Não gostava daqueles senhores de óculos escuros que entravam no Pigalle ao mesmo tempo que ela, que pareciam também gostar de jogar matraquilhos no Moçambique, mas que permaneciam sempre sentados, sisudos e sérios.

Por sinal, tudo tinha começado depois de uma das suas amigas ter assobiado, em jeito de inocente brincadeira, para os cães errados, que latiam no edifício em frente à sua residência, na Antero de Quental. Enfim... Não obstante ter sido abordada na noite do mesmo dia em que ocorreu tal precalço quasi-sacrílego, a nossa ora protagonista nunca terá visitado as tais instalações da Direcção-Geral de Segurança.

Por acaso, quando era mais nova, ouvia o seu pai, de vez em quando, comentar com a sua mãe que aquele seu amigo, ex-presidente da Associação Académica, tinha sido novamente preso pela PIDE. Desde esses tempos, que não tinha ficado a gostar daquela "força de segurança".

Noite de 24: No quarto de beliches e cama individual, esta nossa estudante tentava perceber alguma coisa de Economia, enquanto as suas colegas se concentravam em volumosas sebentas de "Fisiologia do Sistema Nervoso Central" e "Introdução à Lógica Aristotélica" ou outra coisa do género - tudo ao som da música que ia passando na telefonia.

Já a noite ia quase no seu termo, e os livros ainda a meio, quando a Emissora Nacional concede essa pérola a todos os seus estimados ouvintes: "E agora, convosco, o representante de Portugal no Festival da Eurovisão, Paulo de Carvalho, com o tema 'E Depois do Adeus'"... Era uma música de que elas gostavam, tal como gostavam do Zeca, que não se ouvia tanto...

Passado pouco tempo, a nossa estudante e as suas duas companheiras de quarto (ambas nascidas e criadas no Brasil) fecharam as luzes e deitaram-se.

Manhã de 25: "Mininas, Mininas, um golpi d' istado!!!". Era uma das suas companheiras de quarto que entrava no quarto, num estado de agitação invulgar para aquelas horas da manhã.

A nossa estudante, tentando tirar a cabeça da almofada, apenas pergunta, ainda bocejante: "Mas o que é que é um golpe de estado?"

Pouco tempo depois, saem do quarto, já vestidas, curiosas, expectantes, correndo logo para junto das pias Irmãs Religiosas, as guardiãs daquela residência, numa tentativa de recolher mais informações sobre o que realmente se estava a passar.

Ao que parecia, os militares tinham-se revoltado novamente, como há coisa de um mês atrás nas Caldas da Rainha... Só que desta vez a coisa parecia mais séria. O Senhor Presidente do Conselho e o Presidente da República estavam cercados no Quartel do Carmo em Lisboa.

Logo de seguida, correram para as arcadas do jardim da residência. Em frente, na rua, a turba ia aumentando em gritos de guerra... estudantes, na sua maioria, mas também imensos futricas...

A sede da PIDE estava cercada por militares. Carros eram virados, pedras eram lançadas a muitos dos tais indivíduos que agora já não tinham óculos escuros nem aquela pose de inquisidores silenciosos... Muitos tinham era a cabeça partida, fruto de uma mais violenta e certeira pontaria, qual acto de catarse retributiva de alguns que ali dentro se encontraram de frente com a mais sombria mão pesada e enluvada do regime.

A nossa Estudante continuava perplexa... Nunca tinha visto nada assim... De início, não sabia muito bem o que fazer, mas depois preferiu optar pelo silêncio, pelos comentários discretos... Apenas mais tarde se deixou levar pela onda dos comícios - foi a todos - do entusiasmo voluntarista e prenhe de utopias.

Contudo, no mais profundo do seu Ser e Sentir, viveu, logo ali, um Triunfo... O Triunfo de um novo Começo!

Pelo menos, o que estivesse para vir teria de ser bem melhor do que até aí fora. Os seus desejos eram os mais simples e, sim, os mais Puros!

Esta é uma estória ouvida na esplanda. Embora alguns dos factos aqui descritos e narrados se tenham realmente passado, outros há que foram puramente ficcionados.

quarta-feira, abril 18, 2007

Quando a Caixa toca...


Estas são imagens recolhidas na Caixa Automática da CGD, em Coimbra, ao pé do D. Dinis.

Para todos os fãs da Caixa, que gostam desta esplanada.

Enquanto levantam dez euros para uns finos e uma nata...

O telefone é que não percebi para que servia...

De qualquer modo, também continuam a existir cadernetas! Vá-se lá entender...