"Rapariga com brinco de pérola" Vermeer van Delft
Este é provavelmente um daqueles quadros que simplesmente tinham que ser pintados! É como algumas músicas ou livros - sentimos de modo intuitivo um imperativo de existência e nada mais!!!
O leve cair do lábio humedecido, o olhar envergonhado, mas já rendido, de quem está à beira de atravessar o limiar de um suposto sacrilégio que seria mostrar a Paixão ou um Desejo incontido de viver a Felicidade, junto de quem realmente sente a empatia e compreende o apelo da Sugestão Alquímica - que nunca se repete e, por isso, não deve ser perdida, em virtude de distracções induzidas por uma possível timidez -, enfim, a subtil inclinação do pescoço, como que numa posição forçada de um pudor cúmplice e encorajador - tudo ingredientes que abrem essa antecâmara para estórias que apenas ficam entre amantes.
Amantes que adquirem posições iguais e que se diluem um no outro, tornando-se num só, deixando de haver mestre e obra, pintor observador e modelo resignado - o mestre sabe render-se ao que lhe é mostrado e a obra acolhe-o no seu seio, ciente de que a sua conquista pela Sedução, também é a conquista daquele!
Na verdade não deixa de ser surpreendente o modo como Vermeer, que parece querer que dos seus quadros não saia nem um som, nos inspira e educa o ouvido para, lá bem no fundo da tela, distinguirmos, em suaves pinceladas encobertas na penumbra (idêntica à de Delf - cidade de canais), sons de uma suite para cravo que nos adormece serenamente, libertando enigmáticos aromas de uma qualquer droga que produz apetecíveis ilusões, precisa e contraditoriamente reais.
Mas a pintura é isso mesmo - a oferta de reais ilusões que cada um sente à sua maneira. Uma arte de liberdade, sem dúvida! Para distrair da vida, ou se calhar, e assim eu tenho para mim como certo, para vivê-la de modo mais iluminado e esclarecido, sendo esse o caminho da Felicidade!
Pela esplanada, à beira da Catedral, conversas sobre Arte!!!
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