quinta-feira, janeiro 31, 2008

"Cartographya"


Rementendo-me em parte a tudo quanto disse em post mais antigo, trago por ora até à mesa da esplanada um contributo para o mapa de locais onde se pode fumar.


A imagem é do Café Tropical, em Coimbra. Um dos tais sítios onde o "manto cerúleo de fumo" (é uma expressão com alguma piada) apenas era permitido na esplanada. Há poucos dias fui lá e a surpresa que tive foi agradável: um dístico azul, permitindo a descontracção e a liberdade de outros tempos, não idos há muito, no seu interior.


Por outro lado, o sistema de exaustão implementado parece funcionar bem, não tendo havido grandes queixas até agora, segundo o que pude apurar junto de convivas mais assíduos.


O melhor de tudo, a certeza de que certas imagens de marca se mantêm... A Liberdade a melhor delas todas!

terça-feira, janeiro 29, 2008

No início eram os "Warsaw"

As boas estórias são sempre contadas a preto e branco. "Control" de Anton Corbjin é, certamente, uma delas.

A vida de Ian Curtis foi breve e certamente não por obediência ao antigo brocardo que diz que morrem jovens aqueles que os deuses amam. De facto, tenho para mim que o vocalista e a verdadeira âncora dos Joy Division não queria nada com os deuses.

O seu duelo era outro... era com a vida que sempre conheceu, não suportando a cidade em que vivia, rejeitando a rotina institucionalizada pela escola, os modelos pré-estabelecidos - de que cedo se separou -, enfim, tudo o que lhe era dado por um ambiente claustrofóbico de horizontes curtos e sem espaço para outros sonhos, esses, produtos da combinação de tal cinzentismo com uma débil imagem de esperança.

A Ian Curtis juntou-se toda uma geração que procurava a fórmula perfeita de exteriorizar esse desespero provocado por uma sociedade convencional que, na altura (finais dos anos setenta), conhecia um dos seus mais cruciais momentos de agonia. Lá está, o que veio depois foi a sua lenta falência, ainda hoje em marcha e com resultados pouco promissores.

E será precisamente mercê deste circunstancialismo baseado na analogia histórica, que o filme "Control" vem assumir relevância e pertinência, espalhando o romantismo e a nostalgia suficientes para eventualmente (r)estabelecer a esperança na certeza de que haverá sempre uma maneira de quebrar, de romper com o que está de errado, ainda que não se proponha a quem governa qualquer mudança para todo um Estado, Povo ou Classe. A falta de crença na bondade de quem se elege é um borrão de tinta difícil de apagar.

Na verdade, a onda de revivalismo que por estes tempos se vive, explica bem o desejo de ir procurar no passado as soluções certas para ultrapassar mais uma crise social e cultural. O punk, por exemplo, voltou a estar na moda, se bem que mais artificial. Um artificialismo querido por quem é mais sensato, mas também mais fútil. Certamente que a geração dos morangos (entenda-se essa tribo dada pelo nome de "betos") não sabe o que é casar-se aos dezasseis, não sabe o que é começar a trabalhar sem ter curso superior ou parte dele, não sabe verdadeiramente o que é não ter dinheiro.
Mas de qualquer forma, sempre entendi que os momentos de ruptura, apesar de gerarem muita bagunça e desorganização, são inspiradores, únicos e que merecem ser vividos. E ainda que com alguma dose de higiene ou assepticismo materialista, possamos deles tirar o melhor, em termos criativos.
Em cenários industriais, de tijolos escuros e paisagens de um verde que não se vê, o percurso interior de um indivíduo perturbado, epiléctico, mas acutilante - que escrevia poemas em folhas de papel com linhas e marcador preto, em vez de um asséptico teclado de portátil com wireless - reflecte uma certa coragem ingénua de todos aqueles que encontraram, precisamente, as tais soluções que se procuram agora recuperar para sobreviver na incerteza.
As letras e os poemas continuam actuais e profundos. O som ocluso dos concertos e da banda sonora (a recuperar o melhor da voz e dos arranjos musicais em temas como "Radio" ou "Love will Tear us Apart"), como que saído de alguma sala exígua, intima qualquer um e obriga a olhar para dentro.
A vanguarda queria-se assim, sombria, metida consigo e entregue aos excessos, denunciando, claramente, uma única regra: a ausência de quaisquer outras. Em tempos de ruptura, o espaço é caótico, a geometria desordenada. A tal coragem ingénua repercutir-se-ia, certamente, na tomada de consciência da realidade circundante de que se não pode fugir. Qualquer caminho a tomar seria, forçosamente, um trilho sem retorno. Com tudo o que isso trouxesse. Embora não optando pela gratuitidade de qualquer escolha tida por menos boa ou mesmo má, há um certo fascínio que se partilha: eles não se importaram - escreveram e criaram algo, assente em tais parcos pressupostos.
E se para Ian Curtis e outros, tal devia-se à sua angústia, não tendo outra escolha, para os fãs nada mais resta se não tirar o melhor de todo esse conflito: um bom som e bons poemas com significado e estilo próprio.
Tal como a certa altura é dito pelo guitarrista: "Vocês são o público, nós os Joy Division" - a fronteira está traçada. E as tropas querem animação.

No início chamavam-se Warsaw. No fim de tudo, Ian Curtis morreu novo. Foi pena.

Sam Riley está nomeado para o Bafta de melhor actor em ascenção (Orange Rising Star Award).
Também com PenaSuave e devendo a boa sugestão ao Paulo.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

I'm with the Band

Da Bibliotecária veio este desafio interessante: consiste em editarmos um álbum imaginário de uma banda igualmente imaginária - da qual faremos parte -, seguindo alguns passos.

1. Comecemos por ir à Wikipedia. Aí chegados, cliquemos na opção Random Article (no painel esquerdo). O título do primeiro artigo que aparecer será o nome da nossa banda.

2. Seguidamente, iremos às Random quotes. Clicamos na opção "random quotes": as últimas quatro palavras da última citação que aparecer na página servirão como título do nosso álbum.

3. Ir ao Flickr - a terceira fotografia - não importa o que seja - será a capa do nosso álbum.

4. Por fim, devemos utilizar um gestor de composição gráfica de modo a reunir todos os elementos - recomendo o Motivator.

5. Os créditos para a minha montagem: Koyo Seiko, uma foto de andzer no Flickr e a citação "What other dungeon is so dark as one's own heart! What jailer so inexorable as one's self!", de Nathaniel Hawthorne (1804-1864).

Nos tops, a partir de hoje, os Koyo Seiko com o seu álbum de estreia "inexorable as one's self!". Aclamados pela crítica!


Um desafio nacionalizado que lanço à Mariana, ao Ricardo e ao Cachapa.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Antes do GPS...

Johannes Vermeer, "O Geógrafo", Delft, 1668-69


Também em traços de Pena Suave.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Direito de Resposta

É numa certa linha de serenidade argumentativa, a encapotar um qualquer programismo higienista, que este artigo, a meu ver, se insere. Tudo porque, por um lado, nenhum fumador, pelo menos pelo que tenho lido e conversado, pensa como este senhor antropólogo diz pensar - nenhum fumador entende ser esta lei algo de verdadeiramente violador dos seus direitos fundamentais, era só o que mais faltava.
O que os fumadores entendem, e apenas por mim posso falar, é que se verificam dois defeitos nesta lei. Dois simples mas preocupantes defeitos:
1. Tal como o senhor antropólogo soube reconhecer, para lá das adjectivações que achou por bem empregar (é sempre bom contar com o diáfano manto das metáforas, para não dizer o que realmente se quer), existem lacunas na lei, relativamente aos aspectos concretos em que se pode praticar o regime de excepção conferido.
De facto, consagra-se a possibilidade de escolha do proprietário de um estabelecimento com uma área inferior a cem metros quadrados, entre ser aquele espaço para fumo ou livre do mesmo. Tudo o que tem de possuir é o tal equipamento de extracção autónoma de fumo.
Contudo, é aqui que se nota uma certa má-fé de quem legisla: um ano, se não mais! Um ano, senão mais tempo, tiveram os autores da presente lei para que com a mesma tivesse sido aprovada a respectiva regulamentação, incluindo a homologação de um equipamento, fosse ele qual fosse. É que, na verdade, e sei porque falo com alguns proprietários de estabelecimentos, o que tem vindo a imperar é uma incómoda dúvida por parte daqueles - ninguém sabe ao certo qual exaustor devem comprar, uma vez que as entidades competentes pela fiscalização (nem a elas lhes compete, certamente), nenhuma informação possuem. Devido a quê? Lá está, à lacuna.
Foi, assim, com este plano engenhoso que a inteligência higiniesta conseguiu o falso sucesso desta lei: muitos estabelecimentos optaram pela opção FUMO ZERO, porque tacitamente coagidos, não querendo arriscar, de modo nenhum o pagamento de pesadas coimas. Acredite o senhor antropólogo, quando fala do Café Tropical, que a sua frequência de fumadores rondará os noventa por cento! Certamente que o proprietário começa a sentir os efeitos. Não há sinais de fumo, nem de consumo!
E sabe também o senhor antropólogo que o café de excelência da vida universitária dos seus colegas, mesmo ao lado do Café Tropical, tinha esse mesmo tipo de clientela. Dois cafés tipicamente universitários, que, não querendo discutir qualquer mérito desta iniciativa legislativa (nunca foi o caso), provavelmente teriam querido que o senhor tossisse à vontade ou usasse a esplanada, mas que também não abdicariam da sua clientela habitual - que é fumadora sim! E fumar não é doença! Ninguém rouba, mata, viola ou extorque para fumar! PAGA IMPOSTOS, ISSO SIM!
E isso também não se contesta.
Em resumo, os fumadores apenas exigem uma regulamentação clara - uma regulamentação que a lei prevê e que, lá está, protege os seus direitos!
2.
Um segundo ponto que se revela preocupante é que agora se dá a todos o direito, que antes nem se pensava poder ter, de se intrometerem na vida de quem fuma. E não se fala em denunciar infracções. É correcto que se o faça. Embora também não acredite, para infelicidade dos não fumadores, que haverá assim tantas prevaricações. Como disse, não somos criminosos. Do que falo é do semblante com que agora somos vistos nesse ar livre, onde certamente o carro do senhor antropólogo liberta a flatulência mecânica: somos vistos como criminosos.
Isso mesmo me confessou uma empregada da pastelaria que costumo frequentar acerca de uma cliente, UMA SEMANA ANTES DO NOVO ANO! "Olhavam para ela como um criminosa!"
É disto que falo, do gosto que este povo tem, habituado assim, infelizmente durante mais de 40 anos, em ser delator, cioso do seu indicador de unha ruída, alimentando-se voyeuristicamente da suposta desgraça dos outros. Enfim, pode ter a certeza o senhor antropólogo que ninguém fumará ao pé dele... Quer dizer, se conseguir alguma bolsa de estudo para estudar os Índios da Amazónia talvez apanhe com uns fumos (já Cristóvão Colombo e os nossos Descobridores falavam de tal hábito relativamente aos ameríndios) - olhe, talvez assim consiga ter uma visão diferente.
De resto, concordo com a lei e ainda mais com a sua urgente regulamentação!

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Bons Aromas - uma review pessoal

Cigarrilhas Captain Black com sabor a cereja.

Feitas de Black Cavendish da mesma marca, estas cigarrilhas vêm com filtro aromatizado de cereja que permitem travos mais leves e adocicados.

Não recomendáveis para quem goste de aromas mais amargos.

Para mim, uma cigarrilha que se fuma facilmente, própria para quem queira começar a explorar algo mais do que simples cigarros, passando bons momentos de um momento, certamente, egoísta.

E dizem na Vícios Urbanos, de modo, a meu ver, tão iluminado quanto provinciano, que já não existem!

Que as deixaram de importar, por falta de procura - que muitas vezes se fica nos snobs clichés por ignorância -, isso, talvez...

Vale a pena experimentar.

Everyday Stuff

Em resposta ao desafio lançado pelo Cachapa, trago para a mesa da esplanada, entre uns bafos aromatizados de baunilha do meu "small cigar", uma brevíssima review acerca, não de um, mas de dois objectos do meu quotidiano: o meu moleskine e a minha caderneta de papel.

O toque vintage de ambos os items é algo que não dispenso no meu dia-a-dia, tal como não dispenso ouvir "telefonia" em vez de "rádio".

O moleskine revela a sua extrema utilidade sempre que quero captar momentos, ideias ou meros esboços gráficos, que, no meu caso, apenas eu e quem mais me conhece entende - meros exercícios e incursões no campo do desenho, dados à estampa apenas por pura auto-recreação... No que toca à escrita, ela varia, desde a mais simples nota sobre um compromisso, até algo mais profundo como uma pequena diletância literária. Prefiro canetas de aparo a esferográficas e lapiseiras de minas grossas às mais finas. Vem em capas duras e tem um "side pocket", que tal como consta do panfleto explicativo que acompanha cada exemplar é uma invenção registada da própria marca.
Já a caderneta serve para aquilo que os cartões de multibanco servem (eu não tenho cartão)... Não tem grandes vantagens - só há bem pouco tempo me dei conta de que já se pode carregar o telemóvel num terminal de Caixa Automática, coisa que estava reservada aos terminais SIBS e que me atirava assim para o terceiro mundismo que entendo serem as payshops (talvez apenas porque aquelas que conheço são quiosques de um mau gosto terrível).
Por outro lado, se por vezes é o multibanco que se encontra com uma fila de espera considerável, dando-me por feliz por ter optado por comportamento diverso, já noutras alturas me aconselho repetidamente a pedir um desses cartões de débito;
É que perco a paciência quando vejo certas pessoas, com aquele ar, lá está, de falsa santidade e virtude inusitada, a não arredarem pé dos terminais, conferindo e voltando a conferir extensos extractos de conta (por vezes olham para trás, com um riso escarninho ou um esgar de desprezo por quem está à espera, inserindo logo de seguida outra dessas cadernetas - "falta só actualizar as da conta poupança, do plano de reforma ou da caixa-habitação".
Contudo, a caderneta também vem em capas rígidas, ainda que maleáveis, e permite reunir todas as informações que pretendo, sem ter que acumular na carteira infindos e desagregados talões, cedidos por cada operação realizada, caso assim se deseje (esta, uma funcionalidade apenas introduzida há uns anos).
Dois items do meu dia-a-dia que mais não são do que isso mesmo - Everyday Stuff!


O meme foi também encaminhado para a Mariana e para o Ricardo.


terça-feira, janeiro 08, 2008

Os Clássicos também fumam


De Francisco José Viegas n' A Origem das Espécies

domingo, janeiro 06, 2008

E piu se muove!

Porque à evidência o continua a ser...

Ao toque continua quente e reconfortante...

Ao cheiro, aromatizado...

Ao sabor, o que cada um, LIVRE nos seus sentidos, puder apurar!

Também à Pena Suave.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

A tertúlia





"Nos cafés dou de beber à poesia..."
Couto Viana


Onde ficará agora o tempo em que, no fumo de um cigarro, o ligeiro discorrer e a cúmplice partilha fraterna de motes e glosas, de ideias e impressões marcavam as notas indeléveis de uma boa tertúlia?

Ficámos certamente mais higiénicos e a respirar um ar dito mais "puro", mas perdemos definitivamente o toque e o engenho de uma liberdade que marcou uma geração de pensamento livre, cuja imagem de marca residia, precisamente, nesse gesto de acender um "Definitivo" ou um "SG Ventil".

Abram agora alas para galões e bolos fat-free, porque já nem a cerveja será de bom tom pedir! Abram agora alas para gente saudável que apenas bebe suminhos de fruta, com um semblante de falsa santidade e insólita virtude.

A poesia, essa, procurará outros lugares onde beber, onde correr.



Post publicado também em Pena Suave

terça-feira, janeiro 01, 2008

O bar




O melhor Bar da Figueira da Foz, onde as caipiroskas e o Dry Martini têm um significado especial.

O lugar onde receber o novo Ano se torna um ritual de bom gosto, repleto de intensa cumplicidade.

Perfumaria Bar, na Figueira da Foz - para quem gosta de Pub's e sabe apreciar bons momentos.