quarta-feira, novembro 29, 2006

Um loft com vista



A noite estava fria. Tinham passado a tarde nas últimas compras de Natal, na Baixa. O seu estúdio, com vista para a Torre e para o Mondego, estava, contudo, quente e aconchegante - um ambiente ideal para uma longa e demorada ceia, em que as nuances dos olhares e os inocentes jogos de palavras convidavam a uma sugestividade repleta de sensualidade e calor. Todo o cansaço que ambos sentiam, por mais um dia de trabalho e de correrias, desaparecia, assim, num abraço entre os dois, provando o sabor desses beijos, com um ligeiro travo a canela e a passas com que condimentavam um vinho chambreado ao fogão e servido num escanção de fino vidro veneziano. Nessa cúmplice partilha de um aveludado copo em tons de granada, os seus olhares cruzavam-se no alquímico espaço em que apenas os dois existiam, não havendo nada mais à volta! "Sou em ti!!!" - dizia-lhe ele, num murmúrio, sabendo estar Encantado, como alguns Príncipes de lendas e calendas antigas.
"És meu para a vida?" - perguntava-lhe ela, sabendo à partida que sim, em virtude do Feitiço que lhe tinha lançado desde aquela tarde a uma mesa de café. Uma fórmula simples: Fez-lhe descobrir o AMOR!!!
À média luz do candeeiro da secretária dupla do séc. XVIII, que ambos partilhavam, ele respondia: "Pertenço-te!!!".
E por ali se acabavam as palavras, substituídas por uma respiração em uníssono... Estavam Felizes!!! E sabiam que assim seria por todos os seis meses do resto das suas vidas!!! Tá grá agam ort!

À beira da Catedral, os verdadeiros amantes encontram-se!!!

O Selo



Grato, Sub-Lodo, pela lembrança! Seria realmente uma falta imperdoável, prontamente apontada pela senhora que me viesse a atender no Balcão da Fernão Magalhães, onde expedimos a nossa correspondência profissional! Teria sido excomungado, por certo!

quarta-feira, novembro 22, 2006

O belo do postal - Manifesto Anti-CTT por extenso e tudo!!!

"Correios em greve - Paralisação parcial vai afectar centros de Lisboa, Porto e Coimbra"

E aqui está! Quando os CTT se mexem Portugal treme!

Indignados com tamanha falta de consideração e aparente lay-off encapotado, carteiros, estagiárias, balconistas, auxiliares de terceira, auxiliares de segunda, auxiliares de primeira e chefes de Estação uniram-se numa última batalha pela manutenção dos seus direitos, reivindicando a manutenção de um status quo que prima pela eficiência, esclarecimento, simplicidade e rapidez dos serviços que sempre prestaram e onde o lógico corolário é naturalmente a qualidade!

Contudo, se esta onda de greves não fosse tão triste - está apenas na moda vir para a rua e contestar, contestar, contestar - esta tomada de posição de tais bravos funcionários e trabalhadores mereceria algumas considerações mais profundas do que aquelas que aqui se pretendem deixar e que são mais um desabafo de um pequeno ódiozinho urbano do que uma análise detalhada de toda questão.

Em boa verdade, tenho para mim a ligeira impressão que esta tão pomposamente chamada "greve parcial" dos CTT nunca poderá deixar de provocar uma daquelas largas gargalhadas, assim que nos detemos nas parcas e redundantes declarações - porque importadas de uma cartilha revolucionária mitigada e, por aí, sem qualquer conteúdo -do iluminado dirigente sindical que as profere, num tom tranquilo, mas austero e cheio de cortantes farpas, directamente dirigidas ao "Grande Capital". De facto,

Perante tão drástica e séria tomada de posição, somos, de imediato, levados a perguntar o porquê da agressão aos direitos laborais destes dedicados funcionários, que até tinham, inclusivamente, pelo menos aqui há uns anos, uma task-force, tipo comandos ou rangers, de Pais-Natal que alimentavam esse mito tão bonito de que o velho das barbas - um honesto contribuinte fiscal registado na Lapónia e criador de renas - realmente vestia o seu fato de treino vermelho da Nike e se lançava em verdadeiras batalhas sangrentas nas ruas do "gostoso" comércio tradicional a fim de adquirir as desejadas prendas dos petizes que lhe escreviam - em lápis da Faber Castell e com ranho do nariz, que era limpo à manga dos seus pullovers de malha grossa -, juntando em anexo uma longa lista de desejos consumistas.

O Pai-Natal respondia às cartas!

Mas, voltando àquela inquietude que a dúvida provoca, faminta de resposta:

Por que será que a Administração dos CTT, esse ente porco capitalista sabujo, que boicotou essa jornada tão linda que foi o PREC, quer agora eliminar mais de cinquenta por cento dos postos de trabalho fixos existentes na Instituição (é mais do que uma empresa, sim! É útil!)?

Por que entende a Administração, laborando num erro de gestão crasso, ser mais eficiente o recurso a empresas de trabalho temporário, dedicadas à distribuição postal, do que aos seus próprios funcionários, seus filhos ainda em amamentação agora lançados nessa sarjeta cruel que é a vida sem motivos?

Arriscamos uma resposta, em jeito de, precisamente, outra ou outras perguntas:

Será porque aqueles desgraçados com excesso de qualificações, que enviam para tais empresas de part-time resmas e resmas de folhas de papel (pelos CORREIOS - com aviso de recepção, registo, prova de depósito em duplicado, taxa pelo leite com chocolate Gresso do senhor Carteiro que o mesmo bebe pela manhã) com os seus preciosos Curricula Vitae, sentem mesmo vontade de trabalhar e prestar provas de que conseguem fazer melhor?

Ou de que pelo menos o dinheiro que ganham é merecido e assim se sentem orgulhosos e dignos por serem úteis?

Será por tudo isto?

Um silêncio parece instalar-se... Por constrangimento? Não!

Porque nada disso interessa! O que interessa é que os senhores funcionários e trabalhadores dessa tão nobre Instituição, que mantém o país unido - como num filme foleiro do Kevin Costner (olha a novidade!) - merecem a preservação dos seus lugares do lado de lá do balcão, onde vão vociferando os números das senhas de atendimento, como se do monólogo de Hamlet ou de Ariosto Furibundo se tratasse!

Vai sendo dever moral de todos os portugueses esperarem nas filas, no ritmo imposto por esta verdadeira matriz de que eles - os iluminados dos envelopes, selos, caixas de encomendas e impressos para envios de tísicos faxes - são os Supremos Guardiões!

E assim deve ser, porque estar ali a desempenhar aquelas tão altas funções, a bem da Nação, é uma verdadeira tarefa Hercúlea que há muito devia ter sido reconhecida como digna de inclusão no plano de estudos de uma qualquer Academia Universitária deste país - talvez com preferência para certas Escolas e Institutos Superiores que se mostram na vanguarda do choque tecnológico ao oferecerem ditas licenciaturas como "Psicopedagogia Propedêutico-Curativa" ou "Psicopatologias da Saúde Social".

Senão vejamos:

Quem melhor do que estes senhores para averiguar das profundas indiossicrasias existentes na discrepância que existe entre o Remetente e o Destinatário de um envelope em papel pardo que até poderá não estar dentro das normas?

Quem melhor do que estes verdadeiros Reis-Sol da cola de papel e da bela da gosma salivante, para averiguar se um selo está devidamente posicionado no canto superior esquerdo sobrescrito?

Quem melhor do que estes justos para colocar uma carta ou um pacote em cima de sumíticas balanças de precisão e ter olho aquilino (que não o Ribeiro) para alertar em tom veemente e repreensivo - em altos berros, ecoantes por toda a Estação, para envergonhar e servir de intimidação a outros eventuais incautos que aguardam a sua vez, segurando em suas mãos trémulas pequenas caixas atadas com cordéis e fita adesiva castanha - para alertar, dizíamos, do excesso de peso que subrepticiamente se queria fazer passar?

Apenas os "Senhores dos Correios"!

Enfim, a rendição é a única atitude que podemos ter perante esta luta que agora está aí até Sexta-feira!

Porque apenas estes déspotas esclarecidos que arduamente trabalham para o nosso bem-estar na intersubjectividade comunicativa possuem o conhecimento necessário para preencher um impresso de abertura de apartado sem erros e logo à primeira.

Apenas quem enverga tais vestes sabe a importância do telefone e as subtilezas de um PBX de cavilhas verdes e vermelhas!

Apenas por intermédio destes Bravos do Postilhão é que sabemos poder dormir mais descansados esta noite, pois as nossas cartinhas de correio azul, correio verde, correio normal, correio com prova de depósito, correio de avião, correio por comboio e correio o-raio-que-o-parta, chegarão sãs e salvas ao seu sorridente e aconhegado destinatário!

Um grande bem haja a tanta (in)competência e força para a jornada! Até à vitória!

segunda-feira, novembro 20, 2006

Um final de tarde

Naqueles meados de Novembro, o frio já se fazia sentir. O espírito de um Natal que lhes parecia vir mais cedo do que nos outros anos, marcava a sua presença pela Baixa da cidade que eles tanto gostavam de calcorrear, após sair do trabalho. Aquelas ruas nunca tinham adquirido o significado que agora possuíam!

O aconchego que encontravam no olhar um do outro, até nas mais pequenas nuances, tornava o que dantes era mutável, incerto e fugidio, em algo de estável, um rumo certo e traçado em linhas firmes no portulano do seu Ser e Sentir!!!

Aqueles olhos verdes, fascinavam-no cada vez mais! Costumava apertar-lhe a mão com força, no desejo de não perder aquele brilho na misteriosa bruma que subia do rio àquela hora de crepúsculo. Sabia, de qualquer modo, que era agora parte do mais profundo de si mesmo! Algo de que se lembrava espontaneamente, em horas de madrugada, trazendo-lhe um frémito de paixão nunca antes sentido!

Ao ouvir o sino da Torre, recordavam os tempos em que tinham andado perdidos um do outro, mas logo sentiam um conforto especial por saber partilharem tais memórias num
abraço apertado que lhes fazia lembrar, por sua vez, que, mesmo nessa altura, já caminhavam um para o outro. Ele não sentia todo aquele entusiasmo de uma Pura Felicidade, desde os tempos em que era miúdo.

Por outro lado, sabia também ser aquele um Tesouro raro de encontrar e, logo da primeira vez que a abraçou e beijou, tomou como Juramento fazê-la Feliz para sempre!!! Era tanto quanto lhe bastava!

No café, cuja decoração fazia lembrar o cenário de Baker Street que para ela era tão especial, a uma mesa, por cada beijo e carícia que trocavam sabiam que agora o Caminho era para ser feito a dois!

E o encanto de tal mote era saber que as glosas da sua Sedução seriam sempre como as primeiras: APAIXONANTES!!!

Ao que ele, rendido, murmurava baixinho, consciente de tal doce Alquimia tão real e concreta que torna as palavras pobres: "ÉS A MINHA VIDA!!!"

Encontraram-se na cidade que era dos dois, tinham-se um ao outro e isso bastava-lhes! Para tudo! Para a vida! E mais um beijo!!!

Tá grá agam ort!!!

À beira da catedral, um instante polaroid de dois verdadeiros amantes!!!

terça-feira, novembro 14, 2006

Praias de um tempo imaginado



O cheiro a sargaço pairava naqueles finais de manhã em que o sol prometia calor, bom tempo... À medida que ele ia descendo pelas escarpadas escadas, uma verdadeira conquista à arriba que abrigava aquele areal cheio de curiosas rochas - afloramentos do mundo subaquático em maré-baixa -, o frio na barriga e o nó no estômago cresciam, aumentavam de intensidade. Por um lado, era essa expectativa de mais um dia de praia, de brincadeiras, de descobertas, de afronta ao Oceano que lhe parecia querer tomá-lo como seu único confidente. Por outro, a vertigem, uma vontade de ser incluído naquele cenário que parecia engoli-lo. O prazer em arriscar, na aventura, de se superar ainda hoje é vivido com esse misto de respeito e vontade de ser uno com a natureza que o rodeia - um epicurismo animista que busca a construção intelectual dessa ideia de harmonia que traz a paz e a serenidade.

Tudo provavelmente terá começado ali - o gosto pelo Verão, pelo Sol, pelo som das ondas, pela sua fúria respeitosa mas desafiante.

Das memórias que vai guardando e recriando por cada nova e repetitiva visita aos álbuns de fotografias (tiradas pelo seu pai com uma sacrossanta Yashica, máquina preciosa com lentes topo de gama para altura - uma espécie de investimento que sempre ficaria para os filhos), um tanto ou quanto poeirentos e amarelados (os álbuns), que conservam um perene e silencioso lugar na sua escrivaninha de traços hindo-portugueses, ele tem como nítida aquela imagem em que os seus pais começavam a abrir um buraco na areia para poder fixar o enorme guarda-sol azul eléctrico (com "saia" - como aprendeu depois): o lugar estaria reclamado assim que o abrissem, pousando depois uma lancheira frigorífica, também azul, onde estavam guardadas umas sandes, uns iogurtes Vigor e uns sumos. Não deixa de ser curioso: nunca mais o sabor daquele queijo flamengo, o aroma de laranja de um verdadeiro Sumol, ou até mesmo de um paternal fois-grás (que vinha numas embalagens que faziam lembrar bisnagas de pasta dentífrica) fizeram parte da sua vida.

Entenda-se, no entanto: tal facto não é tido como uma perda, mas sim como a conquista do seu imaginário, do seu viver nostálgico - que não melancólico.

Depois, vinham os baldes, as pás, mas disso não ele não tem lembranças detalhadas.

Tem, isso sim, de contemplar as formações rochosas que estavam a descoberto naquelas tais marés baixas, enquanto o mar mais à frente rugia, chamando-o. As algas eram escorregadias, estavam molhadas e, nalgumas pequenas piscinas, descobria pequenas conchas, buzios e camarões.

De facto, eram tempos simples, em que, depois da sesta no areal que à tarde era apenas da família, não havendo mais ninguém na praia, as noites se passavam numa cadência própria, em carrosséis de Citroens Bocas-de-Sapo-miniaturas, onde, pagando uma verde nota de vinte escudos (o Bocage era a figura histórica representada) a um senhor de cabelos brancos que saía de uma cabine ao centro da pista, lhe eram proporcionados momentos de verdadeiro prazer automobilístico e, quiçá, velocístico a fingir.

Ao acabarem as férias voltava para a sua casa de sempre e do cheiro a fechado ainda hoje se recorda com perfeição. Ainda não andava na escola, na creche isso sim, por isso o regresso às aulas não era uma preocupação consciente. Estava contente por estar contente e isso bastava-lhe. De resto, até tinha tomado uns bons banhos de mar, provado a água salgada do mar e trazido alguns búzios que traziam aquele barulho mágico lá dentro bem escondido.

Aos três, quatro, cinco anos é tanto quanto basta.

Uma memória de outros tempos estivais, que se ouviu, por estes dias à beira da Catedral.

terça-feira, novembro 07, 2006

O séc. XVII, a distrair da vida?


"Rapariga com brinco de pérola" Vermeer van Delft


















Este é provavelmente um daqueles quadros que simplesmente tinham que ser pintados! É como algumas músicas ou livros - sentimos de modo intuitivo um imperativo de existência e nada mais!!!

O leve cair do lábio humedecido, o olhar envergonhado, mas já rendido, de quem está à beira de atravessar o limiar de um suposto sacrilégio que seria mostrar a Paixão ou um Desejo incontido de viver a Felicidade, junto de quem realmente sente a empatia e compreende o apelo da Sugestão Alquímica - que nunca se repete e, por isso, não deve ser perdida, em virtude de distracções induzidas por uma possível timidez -, enfim, a subtil inclinação do pescoço, como que numa posição forçada de um pudor cúmplice e encorajador - tudo ingredientes que abrem essa antecâmara para estórias que apenas ficam entre amantes.

Amantes que adquirem posições iguais e que se diluem um no outro, tornando-se num só, deixando de haver mestre e obra, pintor observador e modelo resignado - o mestre sabe render-se ao que lhe é mostrado e a obra acolhe-o no seu seio, ciente de que a sua conquista pela Sedução, também é a conquista daquele!

Na verdade não deixa de ser surpreendente o modo como Vermeer, que parece querer que dos seus quadros não saia nem um som, nos inspira e educa o ouvido para, lá bem no fundo da tela, distinguirmos, em suaves pinceladas encobertas na penumbra (idêntica à de Delf - cidade de canais), sons de uma suite para cravo que nos adormece serenamente, libertando enigmáticos aromas de uma qualquer droga que produz apetecíveis ilusões, precisa e contraditoriamente reais.

Mas a pintura é isso mesmo - a oferta de reais ilusões que cada um sente à sua maneira. Uma arte de liberdade, sem dúvida! Para distrair da vida, ou se calhar, e assim eu tenho para mim como certo, para vivê-la de modo mais iluminado e esclarecido, sendo esse o caminho da Felicidade!

Pela esplanada, à beira da Catedral, conversas sobre Arte!!!

segunda-feira, novembro 06, 2006

Ossian - O princípio do Romântico


Ao som de Chieftains, num intermezzo de Cappercaillie, revisito essas minhas incursões por um século que sempre achei mais mitigado (ainda que tributário de novas conquistas ao preconceito) relativamente a todo o esplendor de um barroco que se perdia em devenientes talhas douradas e construções poéticas de entrelaçados segredos cúmplices, por aí traduzíveis numa magistral peça polifónica em que se acabava sempre por compreender melhor a música do que a lírica - sentir o Belo apenas, para alguns fútil, sem pensar. Para mim, Belo e sedutor, sem dúvida!!! Houve quem dissesse: "O Barroco não mostra a vida - distrai dela".
O meu dilema: o séc.XVII ou o séc.XIX - o estético sentir, de perfumadas nuances e antecâmaras de Prazer anunciado, num gosto por uma doce e kunderiana lentidão vivida no Banho de Apolo em Versalhes, ao som de Jean Baptiste Lully, ou, ao invés, esse febril fulgor de um locus horrendus, ao modo de Bocage ou mesmo de Herculano, em que o Amor era para ser vivido numa melancolia e numa fúria orgásmica em que a rapidez sempre faria decair a memória de um momento tão curto como é aquele em que o Prazer nos toma por completo.
Enfim... Nunca duvidei de uma dada frase, adágio ou provérbio renascentista, a recuperar Homero, que todos nós conhecemos, nem que seja por outras palavras: "Em todas as cousas há uma certa medida". Ou seja,
Tanto uma época como a outra tem a sua medida certa, o seu je ne sais quois de apaixonante e sedutor.
E, deste modo, lembrei-me de glosar em torno do mote que Ossian, esse suposto poeta gaélico, me proporcionou.
Ossian, ao que tudo indica, guerreiro bardo gaélico, imaginado por James McPherson, canta baladas de um tempo em que os actos de bravura em batalha definiam a essência do homem, a demanda pela glória e reconhecimento e o doce repouso merecido no colo daquela que o teria escolhido como seu.
Embora muitos dos tais poemas épicos se têm como forjados por McPherson, o certo é que algumas sagas narradas nas suas obras são excertos de baladas genuínas que remontam ao séc.III.
O princípio do Romantismo torna-se assim numa busca fascinante por lugares escondidos em bosques perdidos nas Terras Altas ou mesmo na Velha Irlanda.
Ao tentar decifrar alguns versos de The Songs of Selma, deparo-me com aquela melancolia que seduz o nosso lado lunar mas que logo nos faz querer regressar para um locus amoenus de diáfanas cores, límpidos canais venezianos e doces sons de cravo.
Mas, é como já se disse, em todas as coisas há uma medida certa.
E para lá da questão de sabermos se estes poemas são forjados, o certo é que têm o seu encanto, a temperar, certamente com algo mais luminoso.
E depois, no final de contas, cantar o Amor, o Viver e o Sentir é o que realmente interessa - uma Busca de todas as épocas!
Uma conversa na esplanada, à beira da Catedral!
Tá grá agam ort!




James Macpherson (1736-1796)

The Songs of Selma
(excerpt)


ARGUMENT
Address to the evening star. An apostrophe to Fingal and his times. Minona
sings before the king the song of the unfortunate Colma; and the bards exhibit
other specimens of their poetical talents; according to an annual custom
established by the monarchs of the ancient Caledonians.


1Star of descending night! fair is thy light in the west! thou liftest thy
2unshorn head from thy cloud: thy steps are stately on thy hill. What
3dost thou behold in the plain? The stormy winds are laid. The murmur
4of the torrent comes from afar. Roaring waves climb the distant rock.
5The flies of evening are on their feeble wings; the hum of their course is
6on the field. What dost thou behold, fair light? But thou dost smile
7and depart. The waves come with joy around thee: they bathe thy
8lovely hair. Farewell, thou silent beam! Let the light of Ossian's soul
9arise!


10 And it does arise in its strength! I behold my departed friends.
11Their gathering is on Lora, as in the days of other years. Fingal comes
12like a watry column of mist; his heroes are around: And see the bards
13of song, grey-haired Ullin! stately Ryno! Alpin, with the tuneful voice!
14the soft complaint of Minona! How are ye changed, my friends, since
15the days of Selma's feast? when we contended, like gales of spring, as they
16fly along the hill, and bend by turns the feebly-whistling grass.


17 Minona came forth in her beauty; with down-cast look and tearful
18eye. Her hair flew slowly on the blast, that rushed unfrequent from the
19hill. The souls of the heroes were sad when she raised the tuneful voice.
20Often had they seen the grave of Salgar, the dark dwelling of white-
21bosomed Colma. Colma left alone on the hill, with all her voice of song!
22Salgar promised to come: but the night descended around. Hear the
23voice of Colma, when she sat alone on the hill!


COLMA


24 It is night; I am alone, forlorn on the hills of storms. The wind is
25heard in the mountain. The torrent pours down the rock. No hut re-
26ceives me from the rain; forlorn on the hill of winds!


27 Rise, moon! from behind thy clouds. Stars of the night arise! Lead
28me, some light, to the place, where my love rests from the chace alone! his
29bow near him, unstrung: his dogs panting around him. But here I must
30sit alone, by the rock of the mossy stream. The stream and the wind roar
31aloud. I hear not the voice of my love! Why delays my Salgar, why the
32chief of the hill, his promise? Here is the rock, and here the tree! here
33is the roaring stream! Thou didst promise with night to be here. Ah!
34whither is my Salgar gone? With thee I would fly, from my father; with
35thee, from my brother of pride. Our race have long been foes; we are not
36foes, O Salgar!


37 Cease a little while, O wind! stream, be thou silent a while! let my
38voice be heard around. Let my wanderer hear me! Salgar! it is Colma
39who calls. Here is the tree, and the rock. Salgar, my love! I am here.
40Why delayest thou thy coming? Lo! the calm moon comes forth. The
41flood is bright in the vale. The rocks are grey on the steep. I see him
42not on the brow. His dogs come not before him, with tidings of his near
43approach. Here I must sit alone!


44 Who lie on the heath beside me? Are they my love and my brother?
45Speak to me, O my friends! To Colma they give no reply. Speak to me:
46I am alone! My soul is tormented with fears! Ah! they are dead!
47Their swords are red from the fight. O my brother! my brother! why
48hast thou slain my Salgar? why, O Salgar! hast thou slain my brother?
49Dear were ye both to me! what shall I say in your praise? Thou wert
50fair on the hill among thousands! he was terrible in fight. Speak to me;
51hear my voice; hear me, sons of my love! They are silent; silent for ever!
52Cold, cold are their breasts of clay! Oh! from the rock on the hill; from
53the top of the windy steep, speak, ye ghosts of the dead! speak, I will not
54be afraid! Whither are ye gone to rest? In what cave of the hill shall I
55find the departed? No feeble voice is on the gale: no answer half-drowned
56in the storm!


57 I sit in my grief! I wait for morning in my tears! Rear the tomb, ye
58friends of the dead. Close it not till Colma come. My life flies away
59like a dream: why should I stay behind? Here shall I rest with my
60friends, by the stream of the sounding rock. When night comes on the
61hill; when the loud winds arise; my ghost shall stand in the blast, and
62mourn the death of my friends. The hunter shall hear from his booth.
63He shall fear but love my voice! For sweet shall my voice be for my
64friends: pleasant were her friends to Colma!


65 Such was thy song, Minona, softly-blushing daughter of Torman.
66Our tears descended for Colma, and our souls were sad! Ullin came with
67his harp; he gave the song of Alpin. The voice of Alpin was pleasant:
68the soul of Ryno was a beam of fire! But they had rested in the narrow
69house: their voice had ceased in Selma. Ullin had returned, one day,
70from the chace, before the heroes fell. He heard their strife on the hill;
71their song was soft but sad! They mourned the fall of Morar, first of
72mortal men! His soul was like the soul of Fingal; his sword like the
73sword of Oscar. But he fell, and his father mourned: his sister's eyes
74were full of tears. Minona's eyes were full of tears, the sister of carborne
75Morar. She retired from the song of Ullin, like the moon in the west,
76when she foresees the shower, and hides her fair head in a cloud. I
77touched the harp, with Ullin; the song of mourning rose!

sexta-feira, novembro 03, 2006

Epica - Feint (Acoustic)

Ouviu-se na esplanada já aqui há alguns tempos! O som perfeito para ecoar por essa praça com uma catedral como pano de fundo! Vêm da Holanda e chamam-se Epica. A menina com esta voz chama-se Simone Simmons e é mezzo soprano!!!

A letra:

The very brightest candle of all has been extinguished
Smothered by those who could not bear to face reality

Every beat of your heart tore the lies all apart
Made foundations quiver
Every wave in the lake caused the porcelain to break
And I shiver...

The leftover tallow just doesn’t contain
All the right answers
Under a sea of dust lies a vast wealth of wisdom

An untuched snow turns red
Innocence dies

This black page in history is not colourfast,
will stain the next
All that remains is just a feint of what was meant to be
This black page in history is not colourfast,
will stain the next
And nothing seems in life,
in dreams like what was meant to be

quinta-feira, novembro 02, 2006

The Kinks Live 1973 - Part 7 of 7

Se é tido como pacífico que os Beatles foram os primeiros músicos vindos da classe operária que ainda hoje faz de Liverpool a Almada Britância, o certo é que ao mesmo tempo, também por terras de Sua Majestade, surgia esta banda, ideia original de dois irmãos - os Davies - que, em muitos aspectos, conseguiram superar os Quatro da Caverna. Nos Kinks podemos ver uma assumpção descomplexada de toda uma fleuma e de um desejo de aristocracia de que nenhum britânico tenha ainda abdicado! Um som agradável com um humor que poderia muito bem ter servido de inspiração a esse grande Bravo - Neil Hannon!
Ouviu-se na esplanada por estes dias!!!

Algo mais directamente da Wikipedia:

The Kinks were an influential and prolific English rock group, formed in the mid-1960s by Ray Davies and his brother Dave Davies. They first gained prominence in 1964 with their hit single "You Really Got Me" and continued to record and perform for over thirty years. The band's name came from their "kinky" dress sense of leather capes and boots worn on stage.[1] The group's original lineup consisted of lead singer/guitarist Ray Davies, lead guitarist Dave Davies, drummer Mick Avory and bassist Peter Quaife. In the United States, they are included in the Big Four of the British Invasion bands: The Beatles, The Rolling Stones, The Kinks and The Who.
While they were never as commercially successful as their mid-1960's peers, The Beatles, The Rolling Stones, or The Who, the band is frequently cited as one of the most important and influential acts of the 1960s.[2] Their early hard-driving singles set a standard in the mid-1960s for rock and roll that reverberated for decades. Albums such as Face to Face,[3] Something Else, Arthur, Village Green and Muswell Hillbillies are highly regarded, by fans and peers alike, and are considered amongst the most influential recordings of that era.[1] Since then the band has experienced a popular fan revivals in the late 70s and early 80s followed by a painful commercial collapse in the late eighties continuing until their disbandment in the early 90s.
After their last tour in the middle 90s, for their latest again-commercially unsuccessful album, the band has been largely inactive. The relationship between the Davies brothers seems to have deteriorated completely around then and both of them had embarked. Rumours of a Kinks reunion are persistent but still vague. Since the exit of longtime drummer Mick Avory (serving in the band's first two decades) in 1984, the latter has been a manager of the band's Konk Studios, where most of the band's material since 1973 has been recorded. As the band are still disbanded, in recent years Avory has been promoting Kinks material with former Kinks members of the 70s John Dalton and John Gosling, including Dave Clarke on guitar and vocals in the formation "Kast off Kinks". He also have joined the veteran supergroup called "The Class of 64" – refering to the year the British Invasion took America by storm (with members from The Tremeloes and The Hollies) – who are also promoting Kinks material among their other bands' material.
Whatever the bands fortunes, their influence on emerging artists has been a constant. During the Punk rock and New Wave era The Jam and The Pretenders both covered Kinks songs[1] and Britpop acts such as Blur, Oasis and Supergrass have cited them as a major influence.[2] As self-professed Kinks fan Pete Townshend said for 'The History of Rock 'n' Roll': "The Kinks were much more quintessentially English. I always think that Ray Davies should one day be Poet Laureate. He invented a new kind of poetry and a new kind of language for Pop writing that influenced me from the very, very, very beginning."