terça-feira, julho 27, 2010

O Banhista 2010

1º Conselho da época balnear 2010: não vá para a praia sem guarda-sol.

quinta-feira, julho 22, 2010

Puro Vintage VII



A manhã já ia a meio e o frio das primeiras horas da alvorada começava a ceder o lugar a um calor sufocante. Mas era nesse misto de calor húmido que o cheiro da erva verde e a sombra dos choupos davam lugar a um cenário único, daqueles que fazem desejar o Verão e os dias grandes.
Naquele ano, durante o Inverno, tinha chovido bastante e, por isso, o açude transbordava. Enquanto assim fosse, enquanto a água corresse àquele cristalino ritmo, realçado pela luz matinal, os banhos estavam garantidos.
Todos os anos, por volta do início das férias grandes - e antes das viagens para as praias do Algarve - era ali que um grupo de cinco amigos se reunia. De facto, o João, o Manuel, a Teresa, a Beatriz e a Francisca conheciam-se desde sempre e encontravam-se sempre na vila que viu os pais de cada um crescer.
Por entre olhares tímidos e nervosos, largas gargalhadas e piadas sem jeito, todos saboreavam aqueles momentos com um gosto especial.
A primeira entrada na água era sempre precedida de bastante hesitação, porque apesar do calor que se fazia sentir na margem, a corrente era impiedosamente fria. "Só lhe faz bem, menino", dizia o senhor Carlos, dono da mercearia ao lado da casa dos avós de Manuel, quando este lhe relatava, de início, as aventuras de mais um dia.
Sustendo a respiração Beatriz atirava-se à água e a voz do seu professor de natação de imediato lhe ecoava na cabeça, repetindo as exigências da postura, o ritmo curto das braçadas e dos movimentos do "inspira, mergulha, vem ao cimo e expira". Convencido de que contemplava o verdadeiro modelo de perfeição olímpica, João olhava para ela e logo a Francisca e a Teresa lhe atiravam risadas que o faziam corar; ao que ele, acto contínuo e em jeito de vingança pela descoberta de tal oculto segredo - a que elas chamavam de "fraquinho" - as empurrava para água, saltando também ele em seguida e provocando um aparatoso chapinhar.
Chegada a hora do almoço, rumava o grupo para casa dos avós de Francisca, subindo pelas hortas que se encavalitavam nas escarpas fronteiras ao açude. Lá chegados, mais um ritual quotidiano se iniciava. A empregada lá de casa, a Dionísia, esperava-os com um farto repasto, porque, afinal de contas, "os meninos estão a crescer e por isso precisam de comer bem".
Pelas horas de torreira, no cumprimento canónico dos tempos da digestão, entretinham-se os cinco a jogar às cartas, a ler revistas de outras eras e a ouvir uma qualquer roufenha estação de rádio numa telefonia que era, ela própria, uma peça de museu. O ar era fresco naquela sala de estar com ampla varanda, paredes de estuque e tectos altos.
Contudo, o dia balnear não terminava para estes marinheiros de água doce sem mais uma ida ao local. Manuel e João aproveitavam para disputar o primeiro lugar na velha prancha de saltos, cuja madeira gasta ameaçava a ruína total. Quanto às raparigas, ficavam à conversa nas toalhas de praia, trocando confissões em forma de prolongados suspiros.
Numa vida simples, o pôr-do-sol tinha o encanto de uma aurora especial - aquela que acontece quando se acorda para a vida por inteiro.
E para aquele grupo de amigos a vida estava, de facto, ainda a começar. Ali, junto à RIBEIRA.