Em tempos, já terminados, de folia, partidas e piadas, tomei nota de três eventos que venho agora partilhar com os convivas da Esplanada.
1. Uma carrinha da EMEL foi alvejada por um tiro de pressão de ar, em plena avenida lisboeta. De acordo com a reportagem transmitida, o seu condutor, também zeloso técnico daquela "bem-amada" empresa, estava a levar a cabo uma verificação aos parquímetros da zona quando ouviu um tiro e, quase logo de seguida, deu conta de uma amolgadela no veículo. Segundo declarações prestadas, o senhor funcionário só encontra uma explicação para o sucedido - retaliação. Retaliação alimentada por um qualquer ódio acumulado contra aquela instituição que tem por hábito bloquear viaturas sem título de estacionamento válido, colar faixas amarelas na pintura metalizada e, um dia destes, barrar alcatrão por cima do condutor faltoso e cobri-lo com penas. O que fica no meio disto tudo é uma singela nota de mesquinhez. Mesquinhez de quem proporcionou ao pesaroso agente-de-uma-autoridade-obscura os seus cinco minutos de fama, enquanto "vítima". Mesquinhez dele próprio ao atribuir, sem quaisquer provas, tal acção a algum grupo terrorista que visa a destruição do sistema de estacionamento urbano e das pessoas que por ele olham. Mesquinhez da agressão, em si, por ser apenas uma "chumbadazinha" pequenina. Bem que podia ter sido uma bombinha chinesa ou mesmo um estalinho...
2. Numa Feira do Livro em Braga, a PSP apreendeu um livro cuja capa continha uma imagem de um quadro de Courbet, em que a farta cabeleira inferior de uma senhora da vida pariesiense está exposta. Pornografia, senhores! Pornografia! Realmente, Braga não é cidade conhecida pelo seu Carnaval, algo remetido para locais tão "coloridos" como a Mealhada, Loulé ou até mesmo a Figueira da Foz.
Mas sempre devemos perguntar: algum bracarense assistiu àquelas manifestações artísticas de primeira água, que tentam trazer essa cor tão linda do país irmão que é o Brasil? Se foi, terá tentado queixar-se junto das autoridades? As autoridades, por seu lado, terão sentido, naquele fim-de-semana, um impetuoso desejo de autuar alguma das alegres moças brasileiras que por ali andaram, na atitude louvável de preservar a ordem pública, a moral e os bons costumes? Censurando todas as manifestações artísticas que firam o gosto do povo português? Aguardam-se as respostas.
3. À parte as brincadeiras de Torres Vedras, que motivaram a actuação do magistrado do MP daquela comarca, o certo é que o Magalhães é um computadorzinho como deve ser. O controlo parental é uma ferramenta vital no sentido de prevenir que os petizes comecem a sua formação como críticos de arte, nomeadamente pintura e escultura, podendo até acabar como coleccionadores de "Courbet's". Na verdade, actividades tão simples como navegar para a página do Google, não estão ao alcance dos pequenos proprietários daquela maravilha da técnica. Os únicos sites considerados como fidedignos, de acordo com a configuração originária, resumem-se a essas páginas altamente didácticas em que o Governo dá a conhecer aos putos e a seus pais todo o esforço de inovação que está a realizar para que Portugal ocupe o seu mais que devido lugar entre as Nações mais civilizadas da Europa.
O manual para configuração doméstica é disponibilizado num ficheiro em formato PDF, que poderá ser encontrado, depois de uma aturada busca no site do e-escolinha.
Tudo sempre com o conselho aos pais para que preservem a moral, os bons costumes e a ordem pública (não esquecendo o votozinho em quem é amigo, quiçá) - valores tão queridos ao povo português.
Deste modo, o balanço que se retira não pode deixar de ser positivo. Depois de uns meses cinzentões e chuvosos, eis que uma malta, foliona e bem-disposta que nem uns malandros, sentiu o calorzinho e veio para a rua jogar ao Carnaval. E assim o País virou burlesco.
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