segunda-feira, julho 27, 2009

Branca de Neve 2.0



Os incautos que se desenganem. A informação da imagem acima exposta é enganosa. Porquê? Aqui começa a história:

Durante este fim-de-semana, foi largamente publicitada, por quem de direito, no Twitter, uma iniciativa nunca antes realizada no ciberespaço português: o Primeiro Ministro à conversa com os autores de alguns dos mais conhecidos blogs da nação.

Tal como era explicado aqui, o debate seria livre e aberto, havendo uma escolha - método da mesma não apurado, porque não exposto em termos de critérios, pressupostos e condições concretas - dos blog's que teriam direito a fazer uma pergunta ao Eng. Sócrates. Sem embargo, e contando com a lista de blog's suplentes igualmente publicada, abria-se ainda a possibilidade de participação das redes sociais, nomeadamente o Twitter.

Ora, uma hora antes do começo: endereço na barra de navegação, tecla enter e página de entrada. Ao que tudo indicava o "live streaming" - emissão em directo - parecia ser fluido e escorreito, mostrando uma curiosa mira técnica e podendo ouvir-se o tão típico"um, dois, som... experiência". A hora dos testes para que tudo corresse bem com esta "admirável" empresa.

17h30m (ou um pouco depois, que ainda fui tomar uma bica e quando voltei ainda não tinha começado): O Primeiro Ministro entra na "cantina", cumprimenta as pessoas e senta-se. "Pronto, vamos lá então ouvir o debate com os bloggers" - o esfregar de mãos ávidas de um bom debate no twitter para o qual a hashtag #blogconf tinha sido criada.

Contudo, subitamente, o "live streaming" é cortado. Mira técnica de volta. Écran negro, sem imagem nem som de seguida. Motivos técnicos, disseram. Sucedem-se os pedidos de desculpas, bastante esfarrapadas, havendo mesmo quem, dizendo-se noutras alturas fervoroso adepto do twitter justamente devido à nota de "tempo real", vem atirar que "na vida, o directo não é tudo".

A indignação instala-se. Do mero #flop para outras considerações mais imaginativas - serão mesmo apenas imaginativas? - bastantes foram aqueles que se levantaram em protesto. Alguns dos agora reduzidos protagonistas - os únicos, é certo, porque convidados - ainda tentam acalmar as hostes, fazendo uma cobertura parcial do que se passaria na "cantina".

Ora, do que ficou, o fedor da conveniência e da estratégia - ou do receio de vociferantes twitts de descontentamento pelo estado das coisas - foi o aroma mais dominante, em modesta opinião.

Um bolo que, de acordo com a imagem, seria para ser comido por todos, deu, no fim de contas apenas para alguns comerem umas fatias. E, ainda assim, fatias variadas: umas com sabor a protagonismo, outras com sabor a propaganda e ainda umas esmigalhadas, com sabor a seriedade (é pena que tivessem sido as mais "piquenas").

Da promessa da transmissão do verdadeiro na íntegra e indeferido, o conforto não é grande, uma vez que não era, de modo nenhum esse o plano inicial. O sentimento de exclusão é legítimo por parte de todos aqueles que acreditam, e não porque alguém em terras lusas o diz, que o Twitter é para todos.

E, no fundo, se, por um lado a ingenuidade acalma e conforta, também é certo, por outro, que não deixa vislumbrar a verdadeira essência da estratégia: quando se quer reduzir o número de intervenientes dialogantes basta introduzir no circuito da comunicação algum ruído, ou seja, "motivos técnicos". Tudo por aí se perde.

#parêntesis: e ainda a RTP tentou dar uma notícia que, para todos os efeitos, não o foi.