Há coisas que me deixam, por vezes, com uma ligeira irritação inconsequente. Um exemplo disso são as linhas de apoio técnico. Ao início, é tudo de uma simpatia que mais parece vinda de um qualquer McDonalds - fabricada, de produção em série e quase asséptica.
Depois, o "basismo" intelectual instala-se por completo. Esperam os operadores - termo técnico eufemístico para baralhar os índices de desemprego ou atribuir alguma dignidade a quem é negado o direito de estar a fazer o que gosta ou para que foi formado - esperam os operadores, dizia, perguntas simples (como por exemplo, ser necessário dois cliques no rato, ou fechar uma janela), pedidos de adesão a produtos da empresa ou até, quiçá, um #EUAMOVOCÊ.
Quando é colocado um problema mais complexo, aí, cai o Carmo e a Trindade. Para lá da minha saga com a operadora mais popularucha, no Verão passado, que aqui não dei conta, é certo, mas que quase me levou ao desespero, aconteceu-me novamente uma situação de grosseira incompetência, na passada quinta-feira. Passo, pois, a relatar o episódio.
Na necessidade de enviar um mail profissional para um serviço público, impondo-se a assinatura digital da dita mensagem e bem assim uma certificação válida, recorri como é hábito, quotidiano, ao meu e-mail da Ordem dos Advogados. As configurações são simples e a única exigência mais premente é que se possua um servidor de saída (SMTP) correspondente ao fornecedor de internet.
Até à passada quinta-feira, recordo, tudo se encontrava a funcionar em perfeitas condições. Deste modo, qual não é o meu espanto, quando sou confrontado com uma mensagem de erro no envio da referida mensagem, que dizia que o utilizador não existia e que o problema teria que ver com as configurações do servidor de saída - o tal SMTP. O desconforto começou a instalar-se... Após várias tentativas, a frustração... Estava na hora de ligar ao... Apoio Técnico! Após premir uma data de teclas - o serviço encontra-se tão compartimentado que se gasta mais tempo em seguir as instruções do que com a eventual resolução do problema - um cumprimento formal, pré-formatado, o nome e a pergunta: "Em que lhe posso ser útil?". Explico a situação. Fazem-se mais umas perguntas "qual o seu número de conta?", "qual o seu número de telefone?".
Tento explicar a situação, de modo inglório, ouvindo instantes de um silêncio estupidificante. E logo a seguir, a idiotice confirma-se: "Vou reportar a sua situação e encaminhar o problema para o departamento técnico, devendo o senhor aguardar o nosso contacto"... Que fazer depois disto?
Nada... Um sujeito fica-se, tal é o poder de tamanha indiferença. Por vezes, chego até a pensar que estes "técnicos" são treinados para aguçar um instinto assassino de, com duas ou três palavras, anularem qualquer reivindicação de um indignado cliente que atempadamente paga as suas contas.
Contudo, a história não fica por aqui, mercê de uma persistência que me começa a parecer mais casmurrice do que verdadeira conduta lutadora. Hoje, segunda-feira, nova chamada. Mudo de táctica e começo por perguntar como configurar o servidor de envio para uma conta pessoal de correio electrónico, como se fosse a primeira vez, no incauto desejo de, desta vez, darem-me uma efectiva resposta.
Questão: "pode-me dizer qual a sua conta de e-mail?". Após me soletrar todas as letras em alfabeto fonético militar - "ó de óscar, a de alfa, correcto?" - a operadora atinge-me na sua máxima sabedoria, deitando para fora uma pérola que sempre representou um avanço relativamente à chamada de quinta feira; afinal tudo se terá passado sem novidade. Segundo o que depreendi, a operadora fornecedora do meu serviço de internet terá tomado a iluminada e sábia decisão de não aceitar "validações" de contas externas no seu servidor de envio.
Ou seja, contas de email que não sejam cedidas pelo próprio fornecedor do serviço não podem usar o seu SMTP. "A alteração é recente", dizem-me; "mas compreende que assim sou privado de um serviço pelo qual estou a pagar e do qual dependo a nível profissional, tendo sido esse o motivo por que contratei convosco?"... Nem resposta. "A situação está a ser analisada". No rasto desta postura, o ar seráfico de quem bem sabe que caso a situação tivesse lugar a um nível mais pessoal, as coisas poderiam descambar para o "próximo nível"...
No meio de tudo isto, que retiro? Pouco, ou o mesmo de sempre. Em Portugal há uma consciência invertida, no sentido de se pensar que é a empresa que faz um favor aos clientes, os quais, por aí, não têm quaisquer direitos; os senhores dos computadores pensam que apenas trabalham para eles, resumindo tudo a linhas de comandos de programas; o conceito de pré-aviso é inexistente, quando até seria muito fácil notificar, dentro de prazo razoável para procurar outras soluções, os potenciais prejudicados das alterações técnicas a efectuar; o acesso à internet pode, diariamente, transformar-se numa odisseia hercúlea, repleta de laboriosos trabalhos que nunca nos levam a lado nenhum a não ser à Cultura da Paciência e do "É a vida"...
1 comentário:
Realmente, é muito desagradável fazerem essas alterações sem aviso prévio. Espero é que essa moda das «contas externas» não pegue aos restantes ISP's senão vamos ter problemas.
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