Tinham rumado a Nova Iorque.
Desde muito jovem que ele conservava uma atracção especial por todo o
glamour que a Big Apple ganhava, de modo particular, nesta altura do ano.
De mãos dadas pela Quinta Avenida, sentiam-se como duas crianças numa loja de doces.
Em estilizados sacos de cartão grosso, algumas prendas e muitos mais mimos que trocariam nessa noite;
Coisas simples - discos, livros, perfumes, uma garrafa de um cabernet tinto e trufas (tal como no seu mais recente passado a dois, com a Torre por pano de fundo) -, mas que lhes diziam bastante e que fariam para sempre parte da sua vida a dois.
Ela estava sublime naquele entardecer tão cosmopolita. A gola alta e os tons de preto do casaco de macia lã grossa realçavam-lhe o esguio pescoço que culminava no tal sorriso por onde ele se perdia sempre, perdendo o nexo ao discurso, embatucando contemplativamente naquela beleza petrarquista.
Aquele mesmo olhar d'esmeralda ganhava agora traços ainda mais firmes de um quente aconchego, de um entusiasmo seguro e alegre e de uma Felicidade estonteante.
Após o jantar no
Le Cirque, na Lexington Avenue, decidiram escapulir-se ao concerto para que já tinham reservas e deambular pelas ruas.
"E que tal irmos andar de patins no gelo?" - perguntou ele.
"Mas nós nunca patinámos" - respondeu ela, surpreendida com aquela resolução.
"Não tem problema. Vamo-nos apoiando um ao outro" - sugeriu, logo dizendo de seguida em tom subliminar: "Eu não te deixo cair".
Ela sorriu; acenando disse: "Vamos. Vou-te ensinar algumas passadas!"
Alugaram dois pares e aventuraram-se no ringue, que já contava com algumas pessoas.
Ouvia-se música de Natal a ecoar.
Após algumas pioretas e deslizes bagatelares a tempo apoiados, lá acertaram o seu centro de gravidade, dando as mãos e fazendo algumas voltas ao ringue;
Foram ganhando confiança e ensaiaram passos de uma valsa que, entretanto, se fazia ouvir.
Parecia que tinham sido transportados até à época dos "Folhinhos"...
O contentamento que estava estampado no rosto dela era indescritível.
A serenidade, a intensidade com que ela sentia aquele pequeno prazer de se perderem, simplesmente, a patinar numa das mais ricas metrópoles do mundo, fazia-o, logo num primeiro momento, intuir que, agora sim, tinha encontrado a sua verdadeira cara-metade!
Sempre sonhou poder partilhar o encanto dos pormenores com alguém que os visse, tal como ele, como pequenos polaroids que fazem recordar muito mais do que aquilo que mostram.
Esse alguém era ela, sem dúvida!
Dançaram por longos minutos, que lhes pareceram horas, num enlevo de elegantes movimentos que ela lhe ia ensinando, tal como prometido, mercê de outros experientes tempos de juventude.
Os segredos que lhe ia confiando ao ouvido, levavam-no às estrelas que brilhavam e caiam, por entre os altos prédios, na escuridão daquela noite decorada em mesclados e argêntuos tons dourados.
O único desejo por ele pedido: Que estivesse sempre à altura!!!
Um momento alquímico de uma Felicidade transbordante estava ali a acontecer, uma vez mais!
Tal como o primeiro, uma agradável sensação do mais Puro Êxtase!!!
E era assim que ali se encontravam dois amantes que sabiam acumular ao seu Tesouro Privado pequenos pedaços de uma descontracção e espontaneidade ímpares;
Tudo numa entrega ímpar, em que todas as barreiras se desmoronavam para sempre!
A música estava a acabar.
Olharam nos olhos um do outro e não disseram nada.
Estiveram ali um para o outro e nenhum deles caíu no chão de gelo frio.
Sabiam que eram um do outro, desde sempre!
E que esta era realmente uma Noite Feliz de um Natal apenas comparável ao seu primeiro passado juntos!
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