quinta-feira, março 01, 2007

O Conde Olavo - parte I (continuação)



E dos mesmos autores em Story Squared. A trama continua:


«O conde tossiu ruidosamente, prenunciando aquela ligeira comichão na ponta do nariz a pingar, indiciadora de um iminente ataque de espirros. O cheiro a clorofila daquela estufa quase morta, empoeirada e cheia de fungos a isso convidava naturalmente.
"A Senhora desce já, senhor Conde", disse a empregada ao entrar na estufa vinda da lúgubre sala de jantar, pintada em tons de verde escudo e com móveis de estilo "Renascença", já carcomidos por séculos de pesarosas heranças familiares.

O Conde acenou sombriamente, lançando o seu gélido olhar para Benedita que começou a sentir estranhos arrepios. Este sujeito provocava-lhe um sentimento de medo tal que muitos dos seus frequentes pesadelos o tinham como personagem predominante e principal.

Ao sacar do seu argênteo relógio de bolso, prenda do seu severo pai aquando do seu exame final da instrução primária, o Conde começou a calcular mentalmente o tempo do percurso das suas duas amigas que tinham ficado de vir ter a casa da senhora Felisbina. Muito do seu sucesso nesta nova empresa dependia das prodigiosas capacidades dramáticas dessas duas senhoras tão pias e tão castas.

Deviam estar para chegar... Hoje era um excelente dia, ainda que persistindo o incomodativo eco do relógio de cuco, causador de uma noite insone. Hoje era um excelente dia, pois era o início de uma nova conquista e isso, para o Conde Olavo, tinha sido sempre motivo de grande entusiasmo. A campainha voltou a tocar. "São elas" - pensou, sentindo um doce conforto no peito.»

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