E se repararmos é algo que acontece constantemente, seja em quiosques, tabacarias, supermercados, barbeiros, frutarias, mercados de peixe e verduras, padarias e outros estabelecimentos comerciais do género.
Na verdade, tenho para mim como certo que o facilitismo inerente a esta alta ciência matemática merceeira é um verdadeiro instituto Luso. De facto, a memória que guardo das minhas ainda parcas deambulações pelo Velho Continente e pelo Mundo dá-me conta de que nunca fui confrontado com tais solitações.
Seja para comprar um jornal, bilhetes de autocarro, pão, coisas de supermercado, seja para pagar um café ou uma água, o resultado vai sendo recorrente: estendo uma nota de cinco, dez euros, para uma conta que envolverá sempre um cálculo mais complexo e tenho o funcionário que me atende a perguntar à socapa, mas com um ar muito consternado, se "por acaso não (tenho) um euro ou mesmo cinquenta cêntimos... ou cinco!".
Resultado: sou obrigado a abrir de novo a carteira para satisfazer tal desejo de facilitar os trocos. Tudo porque sempre "dão muito jeito"! De indivíduo com dinheiro - que apresentei para pagar o que devo -, passo de novo a uma situação de devedor de que eventualmente poderá não haver saída. Sim, porque se houver coragem o sujeito(a) que estiver a atender insistirá na sua carestia de moedas.
E quando se chega a uma solução de consenso, os resultados ainda são mais caricatos: já me aconteceu por diversas vezes, ver o dinheiro que tenho a haver substituído por pastilhas elásticas que nunca pedi, que nunca quis mastigar, nem deitar fora, nem nada, mas que perfazem, de algum modo, a quantia em dívida!
Até poderia aceitar a falta de trocos como um problema crónico do nosso comércio, mas logo que a caixa registadora é aberta, a mais das vezes, tal mito - também usado como argumento - desfaz-se por completo.
Nunca eu tive tantos trocos no meu mealheiro como têm aquelas caixas, ali fartas que nem porcos de loiça com ranhura!
Enfim, a lógica medieval ainda vai valendo nestes nossos burgos. A bolsa só é "gorda" se estiver carregada de dobrões!!!
De uma coisa, no entanto, pode haver certezas: nunca nesta esplanada se ouvirá: "Desculpe, por acaso não tem um euro... ou cinquenta cêntimos?"
Nota: Este post serve também como um desafio lançado a Ricardo José.
2 comentários:
Há uma outra situação que ainda é pior que esta. Quando se pede qualquer coisa, vai-se para pagar e o vendedor, olhando com ar reprovador para a nota apresentada, diz: «Não tem mais pequeno? É que não tenho trocos.».
Aaaaaaaaaaaaahhh...o belo mundo do atendimento público e dos empregados de mesa! Venho deixar o meu contributo:
A situação é igual à relatada, sendo que, antes que a senhora perguntasse se eu teria os famosos trocos, EU PRÓPRIO VERIFIQUEI MINUCIOSAMENTE NA MINHA CARTEIRA se teria alguns. Depois de ter verificado, a pergunta sacramental:
-Não tem trocos?
Respondi de forma simpática:
-Por acaso não, ainda agora estive a ver...
Agora o bizarro: (sendo que a senhora em questão à medida que falava se debruçava sobre o balcão)
-Tem a certeza? Ora procure lá bem!E veja nas calças ou na sua pasta!Olhe que deve ter!
E tinha...tinha um belo murro nos dentes para lhe oferecer, mas sou envergonhadito.
Enviar um comentário