Ao Sábado, Camilo gostava de almoçar como devia ser - com calma, com vagar e a ler o jornal desportivo. E todos os Sábados lá ia ao café "Tróia", num gesto irrepetido, que a erosão do hábito semanal de tantos anos lhe tinha acabado por imprimir. As regras costumeiras estavam tão enraizadas, naquela gostosa cumplicidade que mantinha com Pessanha, o empregado de mesa, sempre bem-disposto e de resposta bem lembrada e artilhada - ainda que sem qualquer malícia -, que até as piadas trocadas eram, há muito, as mesmas. "Ò Senhor Camilo, então hoje não está com pressa?" - perguntava o bom do Pessanha. "Hoje não, meu rapaz" - respondia Camilo, no suspirar satisfeito de quem se sentia dono do tempo, porque em dia de descanso. "Olhe, já pelo sim pelo não, eu hoje atrasei o relógio do patrão". "Ai sim? Como é que o fizeste, meu rapaz?" - inquiria o velho Camilo. "Então, como? Pus uma rolha no buraco da bacia!" - atirava-lhe Pessanha.
De olhar nervoso, Camilo ia olhando para o helénico relógio que estava junto ao balcão de mármore do café "Tróia".E por cada pingo, por cada gota de água que via cair para o cristalino recipiente colocado por baixo daquela estranha bacia furada, agitava-se um pouco mais... Cada vez mais impaciente e exasperado.Da sua pequena mesa quadrada - também em tons de alabastro e com rebordos de madeira escura a condizer com a cadeira em couro tratado -, sorvendo o resto do digestivo brandy, Camilo persistia e aliterava:"Pssst! Pssst! Ò Pessanha, vamos lá! Faz-me a conta do almoço que já estou atrasado para o trabalho!".
De facto, para um fã confesso da série de ficção científica "Battlestar Galactica" (desde os seus primórdios, logo ali, no início dos anos oitenta, finais de setenta) o blog que, por estes dias, é tido como digno de nota pela equipa deste nosso "bem-amado" servidor, revela-se como a excelente combinação dos ingredientes necessários à ficção científica, no sentido de se afirmar enquanto manifestação cultural séria e coerente; longe, pois, de qualquer juízo pejorativo e redutor que a possa remeter para uma "coisa-de-tótós".
The Sience of Battlestar Galactica propõe-se, assim, dar uma sólida visão mais "pop" (e naturalmente também "geek" com estilo, claro) - o que aqui está longe de ser algo de negativo - sobre variados temas científicos, que vêm servindo de base aos episódios da nova série épica.
As próprias estórias que ali se contam, servem aqui de mote para umas quantas glosas sobre astronomia, biologia, química, física, etc.
Na minha opinião, "a very nice treat", ficando aqui a deixa: "Some believe that Science began here..."
Durante anos e anos, seria esta a frase que eu queria ouvir de um modo muito mais repetido do que alguma vez realmente o foi. De facto, era num misto de orgulho e de esperança, quase futebolística - a qual, por estes tempos de uns aquilinos vôos mais "rasantes" me tem vindo a ajudar a aguentar o despautério em tons de encarnado - que, todos os anos, eu alimentava esse sonho de ver Portugal a vencer o Festival da Eurovisão.
"Este ano é que é! A canção é excelente!" - o pensamento que anualmente ia fervendo em renovado nervoso miudinho até à noite de Sábado, de um Maio que se queria Primaveril, anunciando a chegada do tempo quente.
De qualquer modo, é com saudade que lembro os tempos em que o País parava para se reunir em frente à televisão e assistir, no mesmo registo de expectativa, a esse evento da música ligeira europeia, algumas famílias até arriscando-se a dar as suas próprias pontuações, nessa famosa escala de 1 a 12, não havendo setes, nem noves, nem onzes.
Noruega, Bélgica, Itália, Suécia e Irlanda (esta última, com uma dinâmica de vitória incessante até 1995 e recuperada no ano seguinte), alguns dos países que sempre vimos a vencer, somando e seguindo na contagem dos pontos atribuídos pelos júris de cada estado-membro da U.E.R (a União Europeia de Radiodifusão), e dispostos num sempre colorido quadro de bandeiras, que aparecia na segunda parte do programa. Na verdade, posso até dizer que comecei a identificar os países europeus e do Mediterrâneo, de acordo com as suas cores, graças ao Festival da Eurovisão.
Uns dizem que é "kitsch", outros que é o puro "pop" do Velho Continente (onde ficam, pois, os ABBA?). Para mim, naquilo que me interessa, o Festival da Eurovisão é algo de mais subjectivo - a minha primeira tomada de consciência de um imaginário nacional que sempre quis ser maior, que sempre buscou o reconhecimento das outras culturas ditas "mais esclarecidas", a suspirar de conformismo por continuamente perder até "a feijões". E curiosamente, nunca deixei de encontrar correspondência disso mesmo em alguns temas que levámos a tais paragens de palcos maiores. "Conquistador" dos Da Vinci, "Lusitana Paixão" da Dulce Pontes ou até mesmo "O Meu Coração não tem Cor", da Lúcia Moniz - até hoje, a nossa melhor prestação -, são exemplos de como sempre insistimos em mostrar o nosso saudosismo por tempos de abundância e pretenso poder.
De outro lado, ainda guardo grande ressentimento por alguns intérpretes e autores nacionais que marcaram a sua presença no Eurofestival com canções paupérrimas - Nevada ("Neste Barco à Vela"), uns tipos madeirenses, Tó Cruz ("Baunilha e Chocolate") ou até mesmo Célia Lawson ("Antes do Adeus" - uma triste "colagem, que terminou com zero pontos!), nem tentem aparecer-me à frente!
De qualquer modo, outros tempos vieram, mercê das vontades que se mudaram, mercê do xadrez que se inverteu, e não deixa de ser curioso notar o seguinte: hoje em dia, são os antigos países do Leste Europeu que dão cartas em tal espectáculo. Ainda este Sábado, foi a Rússia que venceu na Sérvia e que agora tem a responsabilidade de, no próximo ano, organizar as duas semi-finais e a finalíssima de um modelo que retirou a uns quantos "entendidos" o poder de eleição da melhor música - por muito que possa custar ao senhor Eládio Clímaco ou até mesmo à Senhora Isabel Bahia (a prata da casa da RTP para estas andanças).
Mesmo assim, mais curioso de notar é ainda o facto de Portugal ter passado por tal mudança de hegemonia, igual a si próprio - um perdedor com umas quantas vitórias morais e sempre a dizer, pela boca dos derrotados, que "sai de cabeça erguida"... talvez como a Selecção.
Enfim, pode ser que seja para o ano! Pode ser que, para o ano, o que mais se ouça seja: "Portugal, Twelve Points, Le Portugal, Douze Points.
Respondendo na mais pura aleatoriedade planeada, sempre vou recordando um aforismo familiar, recuperado de um pequeno porta-revistas, feito de lona que se dá pelo nome de "Sanitário Real": "Nas prolongadas sessões, satisfazem quaisquer publicações".
Lanço o desafio à Bitchy Lady, ao Paulo e ao Júlio, porque também ele sabe dosear o bom humor em pequenas doses do mais puro talco de diamante.
Em resposta ao desafio bem-lembrado da Mariana, este post deveria servir para eu enumerar todos aqueles pequenos detalhes, ligados à condução automóvel, que me tiram do sério. No entanto, tal como ali é dito, no meme a que por ora respondo, sempre me deparo com uma manifesta excepção, já ali aflorada: eu não possuo carta de condução, nem conduzo.
Deste modo, a minha possível lista de tais "ódiozinhos urbanos" terá que ver mais certamente com aquilo que vou observando e sentindo do meu "prezado" lugar ou de pendura, ou de utente de transportes públicos ou ainda de passageiro explorado, sempre que chamo ou apanho um táxi.
Então cá vai:
1. Condutores que, em longas filas de trânsito, paralelas umas às outras, tentam sempre meter-se à frente, descurando muitas vezes aquela coisa da "prioridade";
2. Motoristas de táxi que insistem sempre em meter conversa, mesmo quando não me conhecem de lado nenhum;
3. Motoristas de autocarro, arreigados na sua "importante condição" de trabalhadores com qualificação, que pouco se importam com os eventuais danos de uma queda ou outra lesão, por cada vez que fazem bruscos arranques ou travagens;
4. Funcionários de empresas de distribuição de produtos, vulgo "comerciais" e a quem eu apelido de "malta das entregas", porque simplesmente me irrita o seu ar de pura labreguice marialva de cada vez que chegam a um sítio com as chaves no carro numa mão e o telemóvel na outra - querendo sempre dar um ar de "Top Gun's" ou "Ases" do Volante;
5. Conversas sobre carros, manobras e perícia em geral;
6. Desportos automóveis;
7. Instrutores de condução, que pensam ser professores universitários;
8."Anabelas" que se julgam mulheres verdadeiramente emancipadas por serem titulares "bálidas" de carta de condução (é que, enfim, sempre pensam ser mais valorosas e capazes quando remetidas para outro banco que não o traseiro), suprindo sempre os baixos graus de instrução escolar e formação pessoal;
9. Todos aqueles que insistem em usar termos técnicos para coisas simples - para mim, faróis sempre foram faróis, quais "ópticas" quais quê;
10. E acima de tudo a importância que o bom povinho dá ao facto de se possuir um carro, lembrando-me sempre de uma analogia bem apanhada: se em tempos idos, ascendia à condição de nobre quem mantivesse um cavalo e uma armadura, é dado adquirido que, nos dias que correm, qualquer besta vai ao volante e nada tem que ver com aquelas outras, em que se mede a potência do motor.
Em suma, não morro de amores por carros ou por condução e muito menos de quem faz disso um grande tema para conversas, passatempos ou até mesmo para registo de proezas pessoais.
PS: Agora fiquei meio indisposto, ao estilo da Alice do Dilbert.
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